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Nem sempre a matemática é o melhor caminho para uma decisão financeira. Lidar com as emoções é sempre um desafio nas decisões que envolvem dinheiro. Se os cálculos nos mostram que para atingir aquele objetivo tão sonhado sem contrair dívidas serão necessários vários anos, o que devemos fazer? |
Será que devemos desistir de adquirir o tão sonhado objeto de consumo? Devemos nos sacrificar durante vários meses até conquistá-lo? Ou será que devemos nos endividar sem pensar no futuro? Calma, existem soluções para lidar com estes impasses, sem que para isso sejam gerados sentimentos de culpa ou arrependimento.
Você sabe o que é felicidade ou a confunde com status?
Antes de qualquer decisão, é preciso analisar se você não está utilizando a felicidade como desculpa em prol do consumo. Você está? Seja sincero na resposta.
Muitas pessoas, sem perceber, acabam atrelando o conceito de felicidade ao consumo. Sem dúvida, o consumo trás uma ótima sensação, mas de maneira alguma isso pode ser chamado de felicidade. No máximo, conseguimos um sentimento de satisfação. Você não se tornará mais feliz, nem seus problemas pessoais irão desaparecer, pelo simples fato de ter adquirido um carro novo, uma TV de última geração ou uma roupa de grife. Felicidade é muito mais do que isso!
Alguns também confundem felicidade com status. Acreditam que com um carrão na garagem serão mais felizes, quando, em verdade, estão em busca da aceitação de seus pares. Vivem num mundo de competição, onde "ter" conta muito mais do que "ser". Tentam suprimir suas inseguranças por meio da ostentação. É uma questão de imagem, e não de satisfação pessoal.
Então adquirir objetos de desejo é ruim?
De forma alguma. Consumir é ótimo, desde que se saiba exatamente o porquê de tal decisão. É um processo de autoconhecimento. Consumir com qualidade é extremamente benéfico tanto para o indivíduo quanto para o sistema econômico como um todo. Consumir faz a roda da economia girar!
A questão passa pelo real motivo do consumo. Por que alguém compra um carro? Para oferecer segurança e conforto para sua família, ou para exibi-lo aos amigos e pessoas do sexo oposto? E por que alguém compra uma casa?
Os exemplos do carro e da casa são clássicos, pois ilustram dois conceitos bastante distintos em relação ao futuro financeiro e pessoal das pessoas que se endividam para adquiri-los.
Será que vale a pena se endividar durante vários meses para adquirir o carro dos sonhos? Provavelmente não, pois a satisfação gerada com a compra logo se transformará em arrependimento. Afinal, ao longo do financiamento terá sido desembolsada uma quantia que daria para comprar quase dois automóveis. Além disso, o carro perde valor com o tempo e é um passivo bastante agressivo, pois gera despesas praticamente todos os meses.
Mas e aquela pessoa que é apaixonada por carrões? Ela deve viver a vida inteira infeliz sem possuí-los? Também não. Esta é uma questão de prioridade, e prioridade é algo bastante pessoal. Ela terá de fazer uma escolha. Terá de decidir-se entre o carrão e seu futuro financeiro possivelmente ameaçado. Qual você escolheria?
E no caso da compra da casa própria?
Valeria a pena se endividar para conquistá-la? Como a casa própria oferece conforto, qualidade de vida e proteção para a família inteira, e ainda possivelmente pode sofrer valorização no futuro, é bem plausível se endividar para realizar esse sonho. Mas essa dívida deve ser responsável e coerente com o orçamento doméstico da família.
Ou seja, deve-se evitar um alto nível de endividamento para que o sonho da casa própria não se torne um pesadelo. Desde que estes pontos sejam observados, este tipo de dívida se caracteriza como uma boa dívida, que é aquela de prazo mais estendido e juros menores. Muito diferente da dívida ruim, que é aquela de curto prazo e juros altos, e que provavelmente seria o tipo de dívida no caso da aquisição do carro.
Muitos especialistas sempre dizem que o melhor é adquirir qualquer bem à vista, e isso é uma verdade. O que não levam em conta, é que em relação a casa própria, para muitas pessoas essa hipótese está tão distante, ou levará a tão alto nível de frustração ao viver anos morando de aluguel, que talvez seja melhor adquirir uma dívida de forma prudente e consciente e começar a ser feliz o quanto antes. Mas lembre-se, não confunda sua felicidade com status. Saber lidar com um pouco de frustração não faz mal a ninguém. Seja sincero consigo mesmo!
Nunca se esqueça do equilíbrio!
Este artigo não é um incentivo à aquisição de dívidas descontroladas para realização dos sonhos de consumo. Muito pelo contrário. É uma ponderação sobre as dívidas ruins e as dívidas boas, em relação às conquistas e realizações dos indivíduos que se conhecem e são capazes de distinguir a real felicidade daquela simplesmente atrelada ao consumo.
O equilíbrio é sempre o melhor caminho. Se você não possui reservas para dar como valor de entrada na aquisição de bens que ofereçam qualidade de vida, então ainda não é hora de adquiri-los. Como você espera conseguir honrar sua dívida se você ainda nem foi capaz de fazer uma reserva financeira para o valor da entrada? Isso revela muita coisa sobre sua maturidade financeira.
E se seus cálculos mostrarem que, mesmo com o valor da entrada, o financiamento do imóvel dos sonhos demorará cerca de trinta anos, mas que, em contrapartida, morando de aluguel e investindo a diferença das parcelas, conseguirá adquiri-lo em cerca de quinze anos? Não é porque você pode financiar um imóvel em trinta anos que deve fazê-lo.
O que fazer nessa situação? Quinze anos vivendo de aluguel é muito tempo para você? Novamente, busque o equilíbrio e viva, por exemplo, cinco ou oito anos em um imóvel alugado e aproveite para guardar um maior valor de entrada. E tente quitá-lo em menos tempo. Suas finanças agradecem!
Autor: Sinésio Alves